terça-feira, 21 de setembro de 2010

Será saudades? Um dia digo-te.

Trinta de Julho de dois mil e dez

O que me tentaram explicar sempre, e eu nunca senti, nunca imaginei, hoje senti. O R. sempre me disse, às pessoas que tu dás mais importância e não podes viver sem elas, um dia sem elas, um dia vais perceber que vão desligar-se de ti e que nunca mais as vais ver, tudo o que partilharam um dia vai perder todo o sentido. Está-me a acontecer constantemente e eu nem tenho dado por essa ausência. E isto começa a acontecer-me com pessoas de quem gosto muito, gosto menos ou que se limitam a passar na minha vida por algum motivo. Sempre pensei que não me ia desligar dos meus amigos, das pessoas da minha idade. Tive vários cadernos e bolsinhas, onde guardei sempre as minhas melhores recordações, principalmente quando eram folhas e folhas que escrevíamos durante as aulas… sempre me disseram pensa em ti, e não no que os outros pensam. Tudo o que fiz/ faço, anda sempre na boca do povo, moro numa aldeia, onde todos se conhecem e principalmente eu, a minha mãe tem um café, passo lá parte da minha vida, logo todos me conhecem. As pessoas com quem curti, que namorei naquelas bocas, as asneiras que fiz – e namorei, e fiz, quando achei que devia, e não de todas as vezes que os outros o disseram ou pensaram. Mas agora, por estes dias, dou por mim a pensar se tudo o que fiz foi bem feito e que as coisas não acontecem por acontecer. Quando me olho no espelho todos os dias tento perceber como estão a mudar as coisas e porquê? Mas mudam. Quer queiramos, quer não. Há coisas que arrastei comigo: o sorriso, a conversa sempre na ponta da língua, a vontade de ir às compras, a vontade de andar de bicicleta durante o dia. Continuo a ser uma refilona, faladora, seca (não gosto de dar mimos a ninguém, nem mesmo ao R.). Continuo a usar calções curtinhos, beber café sempre que posso e só com uma bolinha de adoçante, a adormecer sempre com a televisão ligada (desligar duas horas depois). Amuar sempre que me magoam, a sentir-me insegura sempre que não me dão notícias. Mudei em tantas outras coisas. Não me sinto bem. Sou insatisfeita por natureza, e sempre hei-de ser. E tenho medo. Porque faço coisas que nunca pensei fazer. Não sei se os arrependimentos me vão assombrar um dia. Se há realmente destinos que se cruzam ou que nunca se tocam por mais que se tente. Se as histórias já estão escritas. Se devemos ser parecidos ou se a chave está nas diferenças. Oiço coisas que ocupam a cabeça: és infantil, insegura, irresponsável, imatura, louca, egoísta. Outros dizem-me o contrário, mas as palavras boas evaporam-se primeiro. Dizem-me que devo mudar por mim. Que devo esperar. Tantas coisas. Não sei. Na verdade não sei nada. Talvez, por uns tempos, seja só o que os outros dizem, o que os outros pensam. Perceber que é de mim que não me posso desligar, é o que faço comigo que não pode deixar de ter sentido. E talvez ai, nesse momento, a ansiedade e o aperto no peito desapareçam. E fique só eu. Eu e o que sou realmente.

Escrito no dia 30 de Julho de 2010,
GF.

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